sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O Divisor de Águas

"Sua primeira morada foi um majestoso palácio num lugar bem distante.
Num momento, era chamado de sua alteza; no outro, vivia na pobreza. Como se pode mudar de vida tão bruscamente?
Cresceu rodeado de enfermidades, mas nunca ficou doente.
Sempre teve muitos amigos, mas até os mais próximos ficavam confusos quando ele falava de realidades que eles não podiam compreender.
Apesar de tudo, foi uma criança alegre. Acompanhava seu pai em todos os lugares e, quando na presença da mãe, não dispensava seus ternos carinhos e conselhos.
Ao completar 30 anos, pôs uma mochila nas costas e saiu andando por todo o país, atraindo multidões, que se sentiam imantadas por sua palavra e ideologia.
Pois é, aqueles que acreditam que somos exclusivamente frutos do meio em que vivemos não devem ter conhecido a vida deste jovem.
Num tempo em que as conquistas eram estabelecidas pelo uso da força bruta, ele atraiu multidões simplesmente com a força da sua verdade.
Se ele era religioso? Não sei. Pelo menos, não como aqueles líderes hipócritas. No entanto, apesar de não ter nenhum título eclesiástico, quando falava, todos reconheciam nele autoridade.
Acredito que a principal diferença entre ele e os religiosos era o foco. Enquanto esses defendiam a santidade do Templo, enaltecendo o cumprimento da Lei, ele se preocupava com as pessoas.
Não tenho conhecimento de que escrevesse poemas, mas conseguia encontrar beleza nas coisas simples, do jeito que os poetas fazem.
Amava as crianças, os pássaros, os lírios, o silêncio da madrugada, o vento fresco da manhã em seu rosto e, diferentemente dos homens que fecham os olhos para adorar a Deus, ele o fazia de olhos bem abertos, contemplando a beleza da criação que sempre provocava nele suspiros de gratidão.
Acredito que dentro dele habitava a nostalgia pela beleza, adorno comum em cada detalhe do reino que deixara.
Amava especialmente a verdade e, segundo suas próprias palavras, somente ela tinha o poder para libertar as pessoas.
De fato, a liberdade foi o tema central da sua vida..."


(Trecho de "O Que Não Me Contaram Sobre Jesus" de Lamartine Posella).

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