terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Próspero e Pleno

"Comecei o meu pensamento fazendo uma lista das pessoas que, do meu ponto de vista, tiveram uma vida mental rica e excitante; pessoas cujo livros e obras são alimento para minha alma. Nietzsche, Fernando Pessoa, Van Gogh, Wittgenstei, Cecília Meireles, Maiakovski. E logo me assustei. Nietzsche ficou louco. Fernando Pessoa era dado à bebida. Van Gogh matou-se. Wittgenstei alegrou-se ao saber que iria morrer em breve: não suportava mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles sofria de uma suave depressão crônica. Maiakovski suicidou-se. Essas eram pessoas lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para os vivos muito depois de nós termos sido completamente esquecidos.


O texto dele segue maravilhosamente. De fato, após essa reflexão, ele chega à conclusão de que - embora lúcidos - nenhum deles passaria nos testes psicológicos de normalidade. É indubitável que eram superdotados. Mas, como o próprio Nietzsche disse a  respeito de si mesmo, ele nasceu fora do seu tempo. Muitos deles expressaram genialidade, porém não suportaram viver num mundo de mediocridade. Foram abalados pela engrenagem da sociedade. Como que numa overdose de sensibilidade, entraram num processo de auto-destruição. Alguns não suportaram e pereceram.

Jesus não. Se a diferença dele para os homens residisse simplesmente na inteligência, certamente ele seria mais um gênio que viveria o ciclo de abrilhantamento, glória e degradação.

É notório para aqueles que estudam a vida de Cristo, suas palavras, suas solitudes, seu amor, enfim, a integridade da sua história, que, mesmo tendo vivido as pressões mais brutais, as traições mais cruéis, as incompreensões dos mais medíocres, ele não perdeu a paz interior. Ele experimentou os extremos deste mundo. Da beleza ao horror. Da simplicidade das crianças aos embates com os letrados. Enfrentou o veneno dos hipócritas e lavou os pés dos mais humildes. Não apenas se alegrou nos casamentos, nos banquetes, mas também chorou de compaixão por amigos e inimigos. Alimentou os famintos, mas não se absteve de receber um caro perfume sobre os pés. Jesus foi uma pessoa muito bem resolvida. Não fez voto de pobreza nem defendia uma "teologia da prosperidade". Ele era próspero porque era pleno. Nunca foi vazio que não pudesse dar às pessoas o que lhe pediam.

Creio que, por isso, quando ele dizia: 'Aquele que beber da minha água nunca mais terá sede', as pessoas eram, de fato, preenchidas. Jesus era genial. Não somente de massa cinzenta, mas também de misericórdia, compaixão, amor, alegria, esperança, espiritualidade... verdade e vida".



(Trecho do livro "O Que Não Me Contaram Sobre Jesus", de Lamartine Posella).

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